Segue, parte do primeiro capítulo do meu livro.
CAPÍTULO I
Enquanto
Isabela escutava no som do seu carro, o novo CD do cantor romântico favorito
Flávio Weiss, voltando do trabalho, aguardava no engarrafamento já costumeiro,
fizera o possível para sair mais cedo, mas não conseguiu, estava ansiosa para
chegar a sua casa e se arrumar para o show. Comprara o ingresso com direito a
mesa ha dois meses atrás. Em duas semanas os ingressos se esgotaram. Pensou em
ligar
para
Adriana, sua amiga de infância que também era fã do cantor e iriam juntas para
o show logo mais tarde. Adriana era carinhosamente conhecida por seus amigos
como Andy.
_ Alô,
Andy? A amiga atendeu no primeiro toque o celular.
_ Onde você
está? Eu já estou em casa me arrumando para o show, e você?
_ Ainda
estou na estrada, presa num engarrafamento, o que é que eu faço? Nós vamos
chegar atrasadas. Mas caso você queira se adiantar, me fala! Parece que tem uma
blitz mais adiante, vou desligar, tchau!
Os
pensamentos ainda voltados para o show, já se imaginava curtindo as canções românticas
na voz do seu cantor preferido. O telefone celular toca chamando novamente, não
gostava de atender enquanto dirigia.
Isabela
mais conhecida por Isa, carioca filha de pai carioca e mãe baiana, enfermeira e
psicóloga. Gostava de sua profissão e também gostava de cantar. Apesar de não
se achar bonita. Nutria a esperança de encontrar um grande amor, tinha a
aparência um tanto exótica se comparada ao modelo padrão de beleza brasileira.
Aos 32 anos ainda estava solteira, e em toda sua vida só teve um primeiro e
único namorado. De compleição delicada e pequena, 1,60m de altura, com pele muito
clara, algumas sardas quase invisíveis sobre o nariz, cabelos castanhos claros
lisos com reflexos avermelhados, de comprimento nos ombros. O que mais chamava
atenção eram os olhos. Belos olhos grandes e expressivos num rosto muito
delicado. Lábios de contorno suaves. Aparentava ter menos idade por conta de
seu constante ar romântico e frágil. Fugia dos relacionamentos complicados e
modernos. Espirituosa, romântica ao extremo e muito mística, acreditava no amor
eterno. Daqueles que derrubam trincheiras e faz levitar. Mas até o momento este
ser mitológico ainda não aparecera.
O último
namorado, de temperamento muito diverso do seu, mais velho e experiente foi um
fracasso, acabando com a confiança de Isabela e fazendo ruir seu mundo
encantado. Acreditava mesmo que gostava de David, e ele dela, mas agora tinha
dúvida se algum dia o amou. O amor não podia ser tão pobre de lealdade e
sentimento. Era o que pensava ao analisar essa relação.
Médico
anestesiologista conceituado na profissão, aos 35 anos ainda tirava pinta de
playboy no melhor estilo: "curtindo a vida adoidado". A maturidade profissional, não acontecia
também na vida pessoal. Ele era um grande farrista, diferente de Isa que era
caseira e não curtia badalações e multidão. Ele levava Isabela mais cedo para
casa, e saia mais tarde com outras garotas, já que a namorada não queria
acompanhá-lo. Ele se permitia pequenas traições, acreditava que aos homens isso
era permitido. Não partilhavam dos mesmos prazeres, enquanto Isa recatada,
caseira. Preferia ler livros de filosofia, artigos médicos e livros
espiritualistas, gostava de autores consagrados da literatura nacional e
internacional, música clássica e MPB de qualidade seleta. O que dava uma falsa
impressão blazê, as pessoas que não a conheciam direito. Pois, na verdade era
tímida, de temperamento sereno, não era fechada, sempre aberta ao diálogo. Cultivava
a fé na alegria de viver sob a proteção dos ensinamentos de sua maior
inspiração. Jesus Cristo. Nutria por Ele um amor místico acima de qualquer
coisa.
David
gostava de barzinhos, pagode, praia e noitadas regadas à boemia e muita
cerveja. Alegava que ainda se sentia um adolescente. O resultado é que não
conseguiam se divertir juntos e acabou sendo traída por seu namorado com uma de
suas colegas de trabalho, que ficou conhecendo David, numa festa de aniversário
de outra colega em comum. Ele acreditava que Isa era a mulher perfeita para ser
a mãe de seus filhos. Boa para casar não para se divertir. Vacilou por se
envolver com uma garota que também conhecia sua namorada. Acreditava que com o
tempo consertaria tudo. Como ele mesmo dizia, confiava em seu “taco traíra”.
Romperam o
relacionamento de quase dois anos, há dois meses. Mergulhou totalmente em seu
trabalho e só agora Isa saia de casa para se divertir. O fim do romance trouxe
amargura, pois se sentia enganada, já estava acostumada a acreditar que os dois
tinham construído algo importante. No entanto Amanda vinha saindo com seu
namorado há algum tempo. Ficou sabendo que várias pessoas conhecidas suas os
encontraram juntos e comentavam pelas costas.
O que mais
doía não era simplesmente a traição, era o fato de constatar que o amor que David
sentia por ela não passava de pó de traque, araque, balela. Jargões fora de
moda. Ninguém mais falava esses termos hoje em dia. Assim como fidelidade, lealdade,
honestidade que perece ter perdido o significado moral ficando apenas o
significado semântico. Mais um engano bobo do seu coração romântico. Agora Isa
sabia disso. E se indignava pela forma como as pessoas vulgarizavam o amor.
Depois que
chegou a ser flagrado pelo Pedro o irmão mais velho de Isa num barzinho que o
David gostava de frequentar e que Isa detestava. No mesmo dia Isa ficou sabendo
por seu irmão, que era muito protetor. Muito mais velho que ela, era advogado e
morava em São Paulo, e se falavam frequentemente por telefone. Pedro de vez em
quando, sempre que podia vinha visitar a família no Rio de Janeiro.
Finalmente
ela conseguiu atender, o telefone que insistia chamar pela terceira vez, assim
que entrou na garagem do apartamento de seus pais, com os quais ainda estava
morando, entrou apressada para chegar logo. Atendeu. Pensou, deve ser Andy...
_ Diga
Andy, já estou chegando a minha casa, num minuto me arrumo... Foi logo
respondendo, sem saber quem estava do outro lado da linha.
_ Não é
Adriana, sou eu David.
Ficou muda
pela surpresa. Depois do rompimento não haviam se falado mais, já que ao ser
flagrado não procurou se justificar, simplesmente disse que queria dar um
tempo. Não adiantava negar os fatos. Deu aquele tempo que se costuma dar para a
poeira baixar, agora queria consertar as coisas.
_ O que é
que você quer David? Ressentida falou mais agressivamente do que pretendia, não
gostava de demonstrar o quanto que ainda estava magoada, não queria dar esse
gostinho. Mas era passional e muito espontânea para conseguir fingir segurança
e frieza. Parecia mais uma colegial do que mulher feita, quando se tratava de
relacionamentos amorosos. Andy sua melhor amiga, dizia que seu romantismo
beirava ao ridículo, para não dizer a loucura. E isso afugentava os homens.
Davyd
iniciou a conversa.
_ Nós
precisamos conversar querida, sei que você ainda está chateada, e com razão. Eu
preciso falar com você. Calados por
alguns instantes. Isa não conseguia dizer nada. Ele continuou.
_ Eu te amo
Isa. Esse afastamento só me fez ver o quanto fui burro! Amanda foi um erro, já
passou. Eu adoro você Isa, você é a minha vida. Isa continuava muda, tentava
refazer-se desse inesperado contato, não podia se esquecer do tempo todo que só
fez papel de idiota. Ele continuava insistente.
_ Gosta desse cantor de música melosa que está
se apresentando hoje, não é? Vamos juntos ao show! Eu sei que você comprou a
mesa. Você precisa me dá uma chance Isa, nunca mais eu vou te trair. Ela
finalmente conseguiu responder, depois de controlar a emoção!
_ É, gosto
muito, desse cantor de música melosa, mas já tenho com quem ir, e estou
atrasada. Não tem mais volta David. Não confio mais em você. Se o Pedro não te
flagrasse, você estaria me enganando até agora. Falava emocionada enquanto
estacionava o carro, sem muita atenção, quase raspando o retrovisor na pilastra
da garagem. Toda carga emocional dos últimos meses aflorando. Preferia que ele
nem tivesse ligado. Porque não conseguiu prever isso. Pensava! Tanta gente
avisou que o cara era volúvel, colecionador de rabo de saia.
_ Você tem
certeza que não quer mais me ver? Eu te amo Isa, eu sei que não agi certo,
admito, mas estou arrependido e estou muito mal com o fim do nosso namoro. Você
não gosta dos meus amigos e das minhas farras, nunca queria me acompanhar, mas
vê se tenta me entender. A voz traia um sentimento de arrependimento que
parecia genuíno, chorava, ou parecia que se esforçava para aparentar isso. Isa
não queria se enganar mais uma vez. Ficou muda, não sabia o que dizer. Uma
lágrima idiota escorria embargando a voz. Olhava seu nariz vermelho e os cílios
molhados pelo retrovisor, só de imaginar que ele poderia estar chorando. Era
uma chorona contumaz, respirou fundo por três vezes para controlar-se. Não era
a falta dele o que doía, era perder a esperança de amar e ser amada de verdade.
Esse era o motivo da lágrima.
_ Isa,
amor, você está chorando? Chego aí em dois minutos... Certo? Posso ir amor?
... Silêncio!
_ Davyd.
Não força a barra!
_ Eu estou
tão pertinho da sua casa. Sinto sua falta... Silêncio! Depois de algum tempo:
Reação! Ela pensou, devo ser muito previsível mesmo, fácil de manobrar. Não vou
dar chance para me arrepender dessa vez.
_ Não, por favor, não quero falar com você hoje, talvez algum dia possamos
conversar sobre isso, mas não hoje. Estou atrasada, quero me divertir e hoje
não quero pensar em você. Acho melhor ficar como está David, não tem mais
volta. Vá curtir com seus amigos.
_ Não seja
tão drástica Isa, pelo menos me diga com quem você está saindo! Eu conheço?
Falou desanimado. _ Com quem é que você vai? Se eu pegar esse sujeito, vou
arrebentar a cara dele! Você é minha. Eu tenho certeza que você vai voltar para
mim.
_ Não seja
ridículo. Não sou sua e nem de ninguém. Não sou o tipo de moça que você curte,
vou sair com uma amiga. Não que isso seja da sua conta. Vou desligar agora e
faça o favor de não ligar nunca mais. Desligou o celular e saiu do carro.
Com
amargura relembrava as juras de amor e o tempo perdido, enquanto se iludia
achando que ele era o homem perfeito e o sentimento que tinha por ela era amor verdadeiro.
Porque um amor de verdade nunca pode acabar. Acreditava nisso. Esse era o seu
lema de vida.
Chegando ao
seu quarto, se dirigiu ao chuveiro, queria espantar qualquer tristeza que o
contato com David provocou, enquanto relaxava debaixo da água morna e forte da
ducha, pensou: "Em algum lugar deve existir alguém que vale a pena amar
eternamente". Como dizia um refrão de uma das músicas do seu cantor
romântico favorito. Hoje só queria sonhar embalada às canções de amor de Flávio
Weiss. Pensava enquanto espalhava shampoo de jasmim com morango nos cabelos. Esperava
por este show há meses. Sonhava conhecê-lo pessoalmente. Teve que fazer
malabarismos na sua escala para conseguir o fim de semana de folga. Cantarolava
uma música do novo disco!
Estava mais
elegante do que gostava de se mostrar, vestia um tubinho preto de renda justo
que realçava seu corpo delgado, sapatos tipo botinha cano curto de camurça
preta e salto alto fino. Uma jaqueta de cetim cinza prata, completava o modelo.
Prendeu os cabelos sedosos num rabo de cavalo com um cordão prateado, deixando
alguns fios de cabelo soltos dos lados e na nuca delicada. Aplicou uma camada
generosa de maquiagem, para logo em seguida lavar o rosto e passar
demaquilante. Por mais que tentasse não conseguia usar toda maquiagem na ordem
que aprendeu, se sentia como uma vedete da década de 50 em dia de carnaval, o
cabelo ruivo e os olhos graúdos verdes, já davam um contraste muito colorido ao
rosto expressivo. Depois do rosto limpo novamente, usou apenas um pouco de pó cor
de pele clara, blush rosinha e batom cintilante rosinha discreto também.
Enquanto estudava o próprio reflexo no espelho do guarda-roupa. Sentiu uma
familiar sensação, quase uma intuição, um leve arrepio, e o reconhecimento daquela
presença, a fez abrir um sorriso. Então viu a sua silhueta indistinta no fundo
do quarto a se refletir no espelho do guarda-roupa. Como sempre, por fração de
segundos a respiração suspensa, até perceber de quem se tratava.
Era ele, o
seu mentor amigo, o seu anjo de luz. E ele aparecia sempre que Isa se sentia
aflita ou prestes a dar um mau passo, ou quando simplesmente se concentrava
chamando-o. Ele surgia como uma leve sombra esmaecida, então ia se
distinguindo, não muito nitidamente, como alguém visto através de um vidro
embaçado, variando a nitidez, a depender da iluminação, outras vezes apenas
escutava a sua voz. Ele era luz e consciência na sua forma natural, incorpóreo.
Precisava se transformar, se concentrar para fazer um contorno mais denso e
tangível, permitir ser visto por sua tutelada. Aparecia como figura masculina. Reproduzia
a forma de uma de suas encarnações mais antigas, era um beduíno de túnica e
turbante a moda dos nômades árabes. Barba espessa e negra de olhos castanhos
claros incrivelmente avermelhados, íris cor de ferrugem cintilante, seu olhar
era profundo e brando, aparecia aureolado de tênue luz como a luz clara e suave
da alvorada. Sério de voz grave e extremamente calmante raramente sorria era discreto.
Era um
árabe em uma de suas encarnações mais antigas neste planeta. De porte nobre e
bonito, fora muito rico, comerciante de peles numa cidade árida, próximo ao
deserto, que hoje em dia é a cidade de Marrocos. Distribuiu toda sua riqueza
entre os pobres e viveu só fazendo caridade, tendo apenas a roupa do corpo e
uma tenda. Contemplava as dunas de areia, meditava e estudava o alcorão, foi
contemporâneo de Pedro, o apóstolo e foi através dele que conheceu Jesus de
Nazaré, meses após a crucificação numa de suas peregrinações para comercializar
suas peles. Apesar de Árabe compreendeu a importância de Jesus, e procurou
estudar avidamente seus ensinamentos. Os mulçumanos relacionam até hoje, a
figura do Nazareno como se fosse apenas mais um profeta.
Essa foi
uma das suas muitas encarnações, já fora escravo africano, médico, padre
franciscano, cientista, sempre uma alma em busca de elevação e desapego
material. Assumia a forma da encarnação mais antiga e importante na opinião
dele, porque foi nessa que entrou em contato com os ensinamentos do Mestre, quando
encarnado e passou a guiar sua vida de forma definitiva.
Escutava
sua voz grave e suave ao mesmo tempo, dentro dos seus pensamentos. Callel Halli,
como se apresentara pela primeira vez quando Isa, tinha 12 anos de idade. A
comunicação acontecia sempre pelo olhar e pelo pensamento, não falavam com os
lábios, Isa não compreendia muito bem o mecanismo, acreditava que era por
telepatia. Porém o processo era bem mais sutil e preciso.
Médium
desde criança, Isa vivia entre dois mundos. Gostava de se comunicar com os
espíritos antigos, e libertos deste planeta. Geralmente esses usavam roupas
antigas ou túnicas alvíssimas e por vezes chegavam nimbados de luz e sempre
serenos. Muitos se diziam antigos mestres em ascensão. Impossível de serem
observados mais detidamente, dada a força de sua luz. Falavam muitas vezes das
enfermidades dos seus pacientes e do tratamento mais apropriado, dirigiam-se a
Isa com humildade e educação, alguns tinham sido médicos ou pretos velhos
curandeiros e diziam que as pessoas doentes precisavam da energia de cura que
ela concentrava abundantemente. Falavam da necessidade dela se preparar para
uma missão.
Dos outros
espíritos, os recém desencarnados e mais atrasados. Como nós outros, mais perturbados
e doentes, Isa tinha um pouco de receio, pois sempre chegavam bruscamente
assustando. Muitas vezes provocando mal estar a depender do que plasmavam em
seus pensamentos. No inicio foi traumático, mas agora já estava acostumada.
Entretanto, aprendera a disciplinar este dom há pouco tempo. Era feliz, pois
nascera no seio de uma família que se tornou espírita há muito tempo, quando
Isa ainda era criança. Por isso compreendiam o que acontecia com ela. Desde
cedo fora educada a dominar suas manifestações e clarividência sem causar
alarde ou chamar atenção. Sua mãe dizia: “As pessoas, ainda não estão preparadas
para aceitar com naturalidade a mediunidade.” Para muitos, algumas situações
eram inexplicáveis e por isso mesmo irrelevante buscar a explicação. Para
outros, portanto, uma loucura total, ou uma baboseira religiosa. Sua mãe que procurava
conhecer a Doutrina Espírita tentava proteger a filha, de situações embaraçosas
mais do que qualquer coisa.
Iniciaram
então o seu dialogo mental. Isa já não o via há mais de 30 dias:
_Olá meu
amigo, tenho sentido a sua falta, você nunca esteve tão distante, por onde
andou meu anjo da guarda! _ Estou sempre por perto, mas nem sempre me faço
visível, observo a distancia seu estado de irreflexão e distração com as
situações irrelevantes do caminho. _ Como assim? Você diz isso por causa do meu
relacionamento frustrado com o David, só porque me dei mal? E porque não me
avisou que ele me traia? _ Sou seu guia espiritual e amigo, não é minha função
fazer fofoca, não sou sua ama seca. Além do mais, você precisava desse
aprendizado, muitas vezes vem com espinhos que machucam, mas não deixa de ser
benéfico remédio contra falta de bom senso. Você se desvia do caminho quando se
distrai ocupando a mente com situações que não favorecem ao seu crescimento e
nem dos demais.
Ele era
amigo, mas tinha um código de disciplina muito rígido. E não alisava quando
tinha que ser disciplinador, era direto.
_ Estou
aqui para lembrar mais uma vez, que você está se desviando do seu objetivo mais
importante. Preciso dizer que você insiste em perder tempo Isabela. _ Callel. Acho
que nunca vou me sentir preparada. Algo tão grande chega a dar medo. _ Eu
respeito sua liberdade de escolha menina, mas o tempo não para pra você se
sentir totalmente segura para começar. Enquanto não sabe como iniciar, o tempo
passa célere. Você sabe que veio para trabalhar com a espiritualidade, minha
função é só lembrar a você que a vida é trabalho em construção de algo maior,
edificante para si e para os que te cercam. Essa encarnação é oportunidade que
não deve ser desperdiçada, você precisa começar a equilibrar suas energias,
disciplinar a sua rotina, domar a mediunidade. Mas, só se você desejar isso! _
Não sei por onde começo, além do que já tenho feito. E parece tão pouco. _ Comece
por perdoar o rapaz, que não tem noção do quanto está equivocado. Ele não
possui o conhecimento que você tem. Não pode viver numa fantasia. O que você
esperava dele era impossível. Mas sua história com ele é muito mais de doação.
Não espere dele, nada do que anseia ou imagina. _ Não quero mais envolvimento
com David, é sério Callel. Então ele foi se apagando de repente... _ Preciso ir
agora menina fique em paz! _ Também vou sair agora, por favor, Callel não
desapareça por muito tempo meu amigo, eu preciso de você...
E ele sumiu
no ar de repente como fumaça, deixando um perfume marcante para Isa, uma
mistura suave de almíscar e rosas, mesclado de uma sensação de pureza e paz,
como sempre acontecia. Como se o ar ficasse mais leve para respirar. Sabia que
precisava se preparar. Isso consistia em frequentar o Centro, estudar mais e se
dedicar a exercitar a mediunidade, controlar os pensamentos focando nos
objetivos e desapegando das fantasias criadas por sua natureza excessivamente
romântica.
Procurou se
adiantar, pois já estava atrasada e ainda ia passar na casa da amiga. Saiu
depois de dar uma última olhada no espelho e apagar a luz do quarto.
Andy já
estava esperando na porta de sua casa. Sua amiga de infância e de todas as
horas, não morava muito longe, apenas alguns quarteirões, não partilhavam a
mesma fé. Andy era carioca também e se dizia Católica por conveniência, dessas
que nunca frequentam missa em dia de domingo, embora seus familiares fossem
praticantes fervorosos, mas apesar das divergências religiosas de cada uma, amigas
desde a adolescência, eram unha e carne. Porém a amiga não gostava dos assuntos
referentes a mediunidade de Isa, porque não compreendia, sempre dizia que a
amiga era “matusquela”. Preferia não aprofundar o assunto, até chegou a ler
alguns livros de autores espíritas, mas não acreditava em reencarnação e vida
após a morte. Aceitava o catolicismo como uma instituição social, mas nem mesmo
acreditava em Deus. O Espiritismo e mediunidade para Andy então, era coisa
inconcebível, muito além de sua capacidade e interesse! Gostava de viver se
divertindo e não levava nada muito a sério, se negava a amadurecer, mesmo já
longe da adolescência. E mais que tudo adorava atormentar os pais, eles tinham
um relacionamento difícil entre si. Sobretudo Andy e a mãe.
Andy entrou
no lado do carona no carro de Isa, vestida de terninho rosa claro aberto na
frente com saia curtinha godê e blusa de seda preta rebordada com vidrilho
preto, lançava reflexos ao se mover, com seus cabelos louros longos quase na
altura dos quadris. Não era gorda, mas era um pouco cheinha, vivia fazendo
dieta. Um lindo rosto em formato de coração e olhos azuis claros brilhantes e
risonhos. Estava sempre de alto astral com os amigos, era mais nova do que Isa,
apenas um ano e meio. As duas estavam muito elegantes. Ainda bem que Andy
deixou a mania de se vestir de modo dark, pensava Isa ao ver sua amiga tão
bonita e bem arrumada. Andy foi dizendo ao entrar no carro espalhando seu
perfume caro de grife.
_ Isa,
minha filha vamos voando baixo, senão perderemos parte do show, que já está
para começar, daqui ha exatos quinze minutos. Se quiser me dá a direção que eu
sei voar. Isa na sua calma habitual não se abalou e disse:
_ Todo show
sempre atrasa, Andy, esse vai ser igual nesse sentido, aposto, fique calma!
Vamos chegar a tempo.
Na frente
da casa de eventos mais famosa do Rio de Janeiro, algumas pessoas, aguardavam.
Outras já entravam para procurar um bom local, já que poucos privilegiados
conseguiram comprar mesa numerada e o lugar estava reservado com os nomes. Isa
e Andy conseguiram uma mesa bem em frente ao palco, pagaram caro, mas valia a
pena, dividiam a mesa que era para quatro pessoas, só para elas duas, esperavam
por este show há muito.
O ingresso
de mesa dava direito a manobrista e estacionamento coberto, acesso facilitado
ao interior do teatro. Depois de entregar a chave do carro ao rapaz fardado de
terno preto. Aproximavam-se do pórtico de entrada, bastante iluminado por
refletores, painéis luminosos em neon com o nome do cantor por toda a parte no
saguão. Foram abordadas por uma repórter que entrevistava as pessoas que
chegavam. A repórter de microfone na mão
seguida de perto por um cinegrafista, que se aproximou educadamente e
perguntou:
_ Boa noite
senhoritas, se vieram ao show é porque gostam de Flavio Weiss. Vão ficar no
camarote ou mesa? Então podem dizer algo
sobre o trabalho do artista desta noite? Diga o seu nome, olhando para a
câmera. Enquanto direcionava o microfone para Isa. As duas moças foram pegas de
surpresa e não tinham como recuar. Então Isa falou timidamente, a outra pedindo
para que olhasse para a câmara.
_ Boa
noite, sou Isabela, temos mesa. É bastante fácil falar sobre este artista
maravilhoso, posso ficar tecendo elogios para ele a noite toda. Flávio é uma
mistura de Mário Quintana e Fernando Pessoa da música, que sabe falar de amor
com elegância, encanto, e ao mesmo tempo com simplicidade. Toca a alma
romântica, sem ser piegas ou cafona. Consegue ser sofisticado, a medida que é
primoroso em tudo, da poesia a melodia,
sua música é de muito bom gosto. Eu o amo, porque acredito na sua mensagem,
quando fala em amores platônicos e mágicos com poder de transformação. Sem falar da voz que é maravilhosa. Bom,
parece que me entusiasmei e já falei até demais, respondeu com sorriso sem
graça.
_ Ok,
Flavio você acaba de escutar mais uma de suas fãs entusiasmadas. Acho, que por
hora já temos muitas candidatas. E olhando para uma câmara de retransmissão,
pergunta como se o artista estivesse escutando a entrevista ao vivo. Então,
voltando- se para as moças agradece.
_ Obrigado senhoritas, tenham um bom show, saibam que as
duas estão concorrendo a visitar o camarim para brindar com o Flavio durante o
intervalo, entre a primeira e segunda parte do show. Boa sorte, Diego da
recepção para o palco, com você Diego...
As meninas
entraram entusiasmadas, Isa esquecera completamente a conversa por telefone com
David. As moças não pretendiam visitar camarim, Isa não gostava de tietagem.
Porém ia gostar muito de conhecer pessoalmente o artista. Mas não botava muita
fé nisso. Não acreditava muito nessa possibilidade. Andy agitada dava gritinhos
de alegria, e repetia:
_ Eu sei que nós é que vamos ser escolhidas,
tem que ser.
Sequer
podiam imaginar que o cantor estava no camarim, assistindo para observar o
movimento das pessoas chegando, e teria ficado encantado com a moça. Até se
sentiu envaidecido com os elogios a sua música, ela o comparava a Fernando
Pessoa e Mário Quintana, muito exagero da parte dela.
Embora já
estivesse imune aos elogios e críticas da imprensa. Cansado e desmotivado, não
pretendia brindar com ninguém desta vez, já no final da turnê nacional, só
faria mais algumas apresentações contratadas e tiraria férias. Até que o
discurso apaixonado da moça de olhar majestoso, o deixou curioso, ela falou com
uma eloquência tocante olhando para a câmara como se estivesse falando para ele
pessoalmente, o tirou do chão. Um olhar tão doce! Parecia que já a conhecia de
algum lugar.
Com 47 anos
de idade, não se achava um homem propriamente belo, tinha um físico jovial, 1,79m
de altura, de tórax forte, um porte musculoso, gostava de cuidar da saúde e
preservava seu físico invejável, tinha olhos azuis escuros, mineiro de Belo
Horizonte. Fazia o estilo másculo romântico. Viúvo do primeiro casamento e
separado do segundo, sem filhos, não mais procurava alguém especial, pois já
não acreditava existir tal coisa, que costumava cantar em suas canções. O cabelo
castanho escuro já com alguns fios grisalhos que insistia em manter, apesar dos
apelos de sua empresaria para inovar o visual, fazer plástica. Sua aparência
física não o estava incomodando, não tinha inclinações para conquista de
mocinhas saídas da adolescência, preferia mulheres maduras, serenas e
inteligentes. Eram menos histéricas e sabiam manter um dialogo interessante. É
claro que gostava de belas mulheres adultas de qualquer idade, mas nunca fora
seduzido por corpos voluptuosos, principalmente os muito turbinados
artificialmente. Devia estar mesmo chegando a melhor idade. Pensou! Porém uma
coisa aquecera seu coração nesta noite.
Aquela
moça, ele fazia questão de conhecer e estava ansioso para chegar o intervalo. Como
era mesmo seu nome, Ah! Isabela, será que estava acompanhada só com a loirinha,
tomara que sim. Pensava consigo mesmo. Designara Angélica para não retornar sem
as duas moças. Já pensava em dedicar a música de lançamento a ela. Como de
costume, dedicava a música final para alguma mulher no palco, não alguém em
especial, mas um nome de mulher. Dedicaria a música final a todas Isabelas.
Ela falava
com tanta doçura, um olhar tão sincero, parecia que tinha mel escorrendo pela
boca, foi como uma caricia suave nos seus ouvidos cansados, incrivelmente
tocante, e sem saber que estava sendo observada, foi tão natural e sensual na
sua espontaneidade. É linda! Pensava o cantor.
O show
começou no estilo intimista, que sempre o marcou. Solo se dividiu no palco de
forma elegante, entre o seu violão elétrico e o piano de cauda. Encantava com
suas baladas românticas, banda e percussão de qualidade superior, levando o
público a cantar com ele e a sonhar com amores eternos, com amores impossíveis,
com amores incríveis. Seu público em sua maioria feminino e fiel. Sabiam cantar
todas as suas canções, casa lotada e muitos aplausos, chegando o final da
primeira parte. Entrava um rápido número de comediante stand up. Flávio gostava
de apresentar no intervalo dos seus shows, algum talento desconhecido, sempre trazia
algum artista interessante.
As moças
Isa e Andy estavam em êxtase, mas não imaginavam que seriam convidadas para
brindar com o cantor no seu camarim. Sentadas a mesa tomando coquetel de
frutas. Foram surpreendidas, quando a moça que entrevistava na chegada veio até
elas.
_ Meninas
estão gostando? Perguntou a moça toda risonha.
_ Sim
estamos adorando. Respondeu Andy. Sem poder se conter, pediu. _ Será que
podemos pedir um autógrafo ao Flávio, você já o conhece intimamente? Quero
dizer, são conhecidos! Isa interrompeu envergonhada.
_ Andy. Não
vou com você pedir autógrafo, não me faça pagar mico. Então a surpresa de Isa,
quando foram convidadas. A moça que entrevistava na entrada chamava-se Angélica
e tinha a missão de levá-las até Flávio Weiss.
_ Pois, preparem-se
estou aqui em missão especial para levá-las até o camarim dele, ele está
esperando por vocês para um brinde. Vocês podem tirar fotos se quiserem, mas
não podem filmar.
_ É sério?
Isa perguntou surpreendida. Enquanto Andy gritava e pulava. Isa ficou muda e
séria de repente. Emocionada não sabia o que dizer, acompanha a amiga. Pensava!
O que diria a Flávio Weiss? “Olá eu amo suas canções desde a adolescência”. Na
verdade disfarçava sua excitação, pois também queria gritar feito Andy.
_ Vamos logo
meninas! Estamos perdendo tempo. Falou a tal repórter, assistente de bastidores
ou algo do gênero. E indicou o caminho com um gesto.
_ Espere,
deixa ver como eu estou. Andy falou segurando toda frenética a amiga pelo
braço. Ela se olhava num espelho de mão.
_ Calma,
Andy, Isa tentava conter a histeria da amiga para que a outra se acalmasse.
Andy às vezes tinha um comportamento inconsequente e impulsivo Isa mais contida
tentava segurar os excessos da amiga.
_ Andy, por
favor, não exagera, não vamos ter um ataque, vamos lá só cumprimentar o rapaz,
vê se não cria vexame. Eu já li na internet que ele detesta ataque de fã
maluca. Porém, no fundo Isa também estava feliz e nervosa. Tinha todos os
discos e escutava suas músicas o tempo todo. Sabia que ficaria a gaguejar
quando estivesse diante dele.
A moça de
nome Angélica bateu na porta e fez as duas moças entrarem numa ante sala do
camarim. Era muito aconchegante, tinha um estofado com almofadas de seda
dourada, uma mesa com balde de gelo com duas garrafas de Don Perrinon e algumas
taças de cristal fino, uma bandeja com frutas e outras bandejas com canapés e
outras iguarias como frios, caviar no gelo, salgados e doces. Vários CDS
empilhados numa mesinha lateral ao sofá. Iluminação aconchegante, ar
condicionado gelado, parecia tudo preparado para a ocasião. Isa pensou, será
que todo show preparam uma sala para o Flávio brindar com alguma fã escolhida,
que no caso presente era ela e Andy, ainda estava sob o impacto da situação
inusitada, quando ele entrou por outra porta.
Ele estava
muito charmoso. Era esbelto, com braços e tórax fortes, musculosos um homem
imponente, tinha um sorriso aberto e olhar penetrante. Usava camisa branca de
linho de mangas compridas e arregaçadas. A camisa meio aberta na frente
deixando a mostra parte do tórax. Ele vestia calça preta justa delineando
pernas musculosas, De olhar azul profundo e direto, quase duas fendas
brilhantes, testa larga e contorno do rosto anguloso, não era muito alto, se
movia com elegância máscula e já pegava as mãos de Andy que se dirigiu primeiro
em sua direção e levava até os lábios para um cumprimento cavalheiresco, em
seguida fazendo o mesmo gesto com Isa, demorando um tempo maior ao encará-la
nos olhos e ao segurar suas mãos. Isa ficou muda, mas o brilho dos olhos, as
mãos frias e as maçãs do rosto afogueada, denunciava a emoção que sentia.
Andy
desatou a tagarelar sem freio. Enquanto se posicionava na frente dele. Isa com
seu sorriso discreto de Monalisa. Tímida, não conseguia falar, só conseguia
olhar para ele. Andy estava bem à vontade.
_ Que
prazer imenso, conhecer você pessoalmente, olha esta é a melhor noite da minha
vida, e esta é minha melhor amiga, Isabela que faz coleção de seus discos.
Posso tirar uma foto Flávio? Pegando o aparelho celular dentro da bolsa, não
esperou a resposta dele, pediu a amiga para fotografar e foi logo enganchando a
mão e se dependurando no braço dele, que não conseguia desviar os olhos de Isa.
Ele se mantinha sorridente, demonstrando prazer em recebê-las.
_ Isa, vê
se tira várias fotos querida, preciso mostrar para todo mundo, senão ninguém
vai acreditar a sorte grande que tivemos nesta noite mágica. Dizia Andy toda
coquete.
_ Flávio
você pode abaixar mais um pouco, assim encosta mais. Isa, atabalhoada, pegou o
celular das mãos da amiga, foi se esconder atrás da máquina e começou a
disparar várias vezes. Envergonhada com a falta de cerimônia da amiga, continuava
muda. Depois inverteram as posições.
_ Agora
você fofa. Passe aqui o aparelho. Andy foi falando e empurrando de leve a amiga.
Trocaram de lugar e ao se aproximar, ele delicadamente a abraçou pela cintura,
olhando para ela e encostando o rosto tão perto que as bochechas se tocaram.
Depois
passado a seção de fotos, a amiga começou a fazer um bocado de perguntas
monopolizando a atenção do rapaz. Isa sem graça apenas observava tudo com um
meio sorriso e olhos brilhantes. Andy disparava perguntas. Onde você mora
atualmente? Quando será o próximo show, sobre turnê internacional, O que mais
gosta de fazer... Ele tentava responder,
mas antes disso lá vinha outra pergunta. Andy era um foguete. Então ele olhou
fixamente para Isa e perguntou com olhar galanteador.
_ Você não
vai falar nada agora Isabela. Só porque está na minha frente! Não parece a
mesma moça tão falante que me fazia elogios algumas horas atrás. Isso tudo está
gravado, eu posso provar que você fala. Percebendo o embaraço dela, se virou e
pegou a garrafa de champanhe e abriu com agilidade e experiência, sem derramar
nem estourar, encheu três taças e serviu primeiro a Andy, depois Isa, que
parecia ter engolido a própria língua. Então, parecendo que acordava de um
transe, tomou coragem e falou.
_ Não
acredito que você estava assistindo naquela hora. E também não acredito que
estou aqui na sua frente. Posso fazer um brinde? Foi pegando a taça das mãos
dele. Então esperaram que ela fizesse o brinde.
_ Um brinde a noite mais incrível da minha
vida, ao melhor cantor romântico do mundo, ao romance, e ao amor. Brindaram
tocando as taças e sorveram pequenos goles em seguida. Então Flavio convidou as
moças para sentar no sofá ficando ele no centro. Perguntou a Isa.
_ Isabela
me diga o que você faz da vida, além de ser uma sereia, ou para melhor combinar
com seus olhos e seus cabelos de cobre, uma feiticeira. Charmoso virou-se
enquanto segurava a taça e encarava Isa com seu olhar e sorriso mais sedutor.
Os olhares se encontravam atraídos.
_ Ah, eu
sou enfermeira, sou psicóloga e também canto em casamentos, mas não sou cantora
profissional, trabalho num posto de saúde, dou plantão num hospital de uma
cidadezinha do Rio, e bem, coisas assim. Estou muito nervosa, me desculpa a
falta de jeito, não sabia que gaguejava, até ficar assim tão perto de Flávio
Weiss. Rindo sem graça, se sentia intimidada pela presença poderosa dele.
_ Não seja
boba! Isabela, você precisa me conhecer melhor, vai ver que sou igual a todo
mundo, não precisa ficar assim tão encabulada, na verdade também sou bastante
tímido e gosto de simplicidade, adoro gente simples. Enquanto falava olhava
diretamente para ela e bebia seu champanhe sem desviar o olhar magnetizador dos
olhos de Isa, parou de beber, descansou a taça numa mesinha próxima e depois
mordendo o lábio inferior, novamente encarava Isa de forma muito direta e
perguntou num impulso indiscreto.
_ Gostaria
de conhecer você em outra ocasião. Isabela você tem namorado? Casada sei que
não é. Deduzia ele. Isa sorriu e questionou.
_ Porque
você deduz que não sou casada? Perguntou menos tímida.
_ Bem, se
você fosse minha esposa ou namorada, eu não deixaria você sair a noite sozinha,
eu estaria te acompanhando. Um grande defeito que tenho. Sou ciumento! Além do mais não vejo nenhuma aliança em sua
mão.
Estavam negligenciando um pouco Andy, que se
levantou e circulava pela sala com sorriso maroto. Foi se servir de um canapé,
depois ficou examinando os CDS. Então ele segurou a mão direita de Isa
entrelaçando os dedos, provocando um frisson da ponta dos dedos até o resto do
corpo da moça, com súbita intimidade. Dominava completamente o ambiente e
parecia se sentir muito a vontade. Se voltando para o outro lado, mas sem
soltar a mão de Isa, fortemente entrelaçada com a dele. Perguntou.
_ Então
Andy, é esse o seu nome?
_ Sou
Adriana, Andy para os íntimos, ela respondeu sorridente.
_ O que
você faz além de ser muito divertida e alegre? A moça voltou a se sentar,
enquanto respondia.
_ Bem acho
que é isso que eu faço, divirto as pessoas, sou jornalista, escrevo para um
jornal e também tenho uma página numa revista na seção feminina, faço
comentários divertidos sobre as roupas dos famosos. Aliás, preciso dizer que
seu personal stylist, está de parabéns.
_ Obrigado
Andy, eu não tenho um. Minha empresária determina o que eu devo vestir nos
shows, poucas vezes interfiro. Será que você vai fazer um comentário engraçado
sobre minhas roupas, no seu jornal, olha lá o que vai dizer!
_ Só posso falar
a verdade, e a verdade é que você está vendendo charme e saúde demais. Ele
olhou para o relógio de pulso, ao mesmo tempo, que alguém batia na porta do
camarim. Levantou e trazendo consigo Isabela que tinha os dedos entrelaçados
nos seus, ele disse apertando mais ainda a mão de Isabela.
_ Bem,
minhas queridas amigas, agora nós estamos ligados por esta noite para sempre,
foi um prazer conhecer pessoas tão encantadoras, mas preciso me preparar para o
segundo ato e gostaria de entrar no palco com você Isabela. Vem comigo? Ele
aproximou a mão dela do seu peito, ainda entrelaçada com a dele. Continuou.
_ Queria
cantar uma música especial, que será lançamento, ainda não tinha pensado no
nome da música, mas se encaixa certinho com o seu nome Isa... bela... E fala para Andy, ainda segurando a mão de
Isa.
_ Você me empresta sua amiga só um pouquinho
Andy, logo em seguida ela pode voltar para a mesa? Então Isa se deu conta e o
coração acelerou. Soltou a mão que a prendia bruscamente. Estava distraída
olhando para ele com adoração e só depois percebeu o que ele queria.
_ Por
favor, Flávio, não faz isso comigo não, sou muito tímida e estabanada, com
certeza vou dar vexame. Eu canto em casamentos, porque ninguém repara nos
cantores, só nos noivos. Ele suspirou enquanto olhava sério para Isa, que
recusava seu convite. O que a maioria das moças que brindavam com o cantor, ansiava
por acontecer. Ela recusava. Suplicante se desculpava meigamente levantando os
ombros, por não acompanhá-lo no palco.
_Sinto
muito não vai dá! Pode me pedir outra coisa, mas não isso.
_ Tudo bem
princesa, então Andy o que faço para reencontrá-las mais uma vez?
Andy,
sempre despachada. Pegou um cartão da sua bolsa e entregou ao rapaz como se
fosse um troféu dizendo.
_ Olha!
Flávio, isto aqui é um presente. Neste cartão está o endereço e o telefone da
Isa, já percebi a química que está rolando entre vocês. Adoro ser cupido. A Isa
é boba, por não querer entrar no palco com você. Seria uma honra. Mas a Isinha
detesta aparecer. Vou parar de falar, pois ela já está ficando vermelha. Andy
tinha o dom de fazer corar todos ao seu redor, era uma debochada sem limites.
_ Obrigado
por tudo Andy, te devo essa, guardou o cartão no bolso de trás da calça. Ele
agradecia enquanto dava um beijo na bochecha de Andy se despedindo, e
oferecendo qualquer disco da pilha que ela estava examinando até poucos
instantes. Ela pegou dois dos CDS que já estavam autografados. Oferecendo
também a Isa, que pegando um agradeceu, dizendo que já tinha todos os seus
discos e dizendo que nada podia se comparar a emoção de conhecê-lo
pessoalmente.
_ Esse show será para sempre inesquecível para
mim. Eles estavam presos pelo olhar. Flávio ficou segurando novamente sua mão
entrelaçando os dedos, com um olhar quente que deixava claro seu interesse por
ela. Então se inclinou devagar como se estivesse hipnotizado, foi de encontro a
Isa e se despediu com um leve e sonoro selinho. Deixou um perfume inesquecível
de fragrância masculina e soltando a mão de Isa, se despede finalmente. As duas voltaram para a mesa, extasiada uma e
eufórica a outra.
O artista voltou ao palco, mas para Isa, tudo
estava diferente, parecia flutuar, enquanto ele cantava olhando para ela
constantemente. Com ar sonhador, romântica incurável, em estado de encantamento
não percebia mais nada só a música e o olhar daquele homem encantador. Homem
maduro, que sabia muito bem o que queria de sabor intrigante como vinho antigo,
como seria beijá-lo, pensou consigo mesma, não um leve roçar de lábios, mas um
beijo de verdade. Ele era atraente demais. Um perigo!
Cantou a
última música depois de declarar para todos que fazia uma homenagem a Isabela,
uma amiga que estava presente. Em seguida cantava a música nova, desconhecida
ainda do público, que pela aceitação e enlevo logo seria seu mais novo sucesso.
De melodia suave, falava de uma mulher que aparecia nos seus sonhos e ela vinha
rodeada de luz para curar todas as dores do seu coração e por várias vezes
durante a música ele sussurrava o nome Isabela, como se mandasse uma mensagem
cifrada.
Ao encerrar
o show, elas voltaram para casa de Isa. Andy decidiu dormir lá, pois na verdade
queria comentar o acontecimento do ano, até esgotar. Isa era frágil e
romântica, mas tinha um bom senso de realidade, insistia em afirmar que os artistas
são os seres mais volúveis do mundo e acostumados a distribuir galanteios para
qualquer mulher com a mesma naturalidade com que escovavam os dentes ao
acordar. Andy, entusiasmada e querendo animar a amiga, recém saída de uma
decepção amorosa, jurava para quem quisesse que o Flávio Weiss, fora fisgado e
estava perdidamente apaixonado por Isa. Foi amor a primeira vista. Ela dizia,
revirando os olhos e fazendo troça.
_ Tudo bem
Andy, mas a minha carruagem já virou abóbora e meu sapatinho de cristal já virou
chinelo surrado, vamos tentar dormir que amanhã é plena quinta-feira, dia de
trabalho. E vamos falar mais baixo, meus pais estão dormindo. Entre dois
bocejos, dizia. _ Não sei por que este show foi acontecer numa quarta-feira e
estava lotado.
_ Você é
uma danada sortuda, aquele homem maravilhoso, não tirava os olhos de você o
tempo todo, você não reparou isso Isa? Olhava para você com uma fome de leão.
Apesar de ele ser um pouco velho para você. Continuava comentando exaltada como
se não escutasse nenhuma palavra de Isa. As duas estavam na sala de estar do
apartamento dos pais de Isa. Andy deitada sobre as almofadas no tapete no chão,
já havia tirado os sapatos, e Isa no sofá, também já estava descalça.
Isa se
levanta e vai em direção ao quarto apanhando os sapatos no chão.
_ Vamos dormir
Andy, sua desmiolada, e depois ainda diz que eu é que sou biruta. Ele não é
velho, é o homem mais lindo que eu já vi. O olhar dele congela e aquece ao
mesmo tempo o coração da gente.
_ Cuidado
para não ter um choque térmico. Andy sempre fazendo pilhéria.
_Ai! Já
chega de sonhar acordada, Andy. Vou arrumar o sofá cama do meu quarto para
você. Depois vou tomar banho, tomar um chá de frutas e tentar dormir. Hoje, vai
ser bem difícil, vou confessar que ele me impressionou, ainda tenho o perfume
dele na minha mão. Isa ficou olhando para a própria mão e lembrando que horas
atrás ele apertava aquela mão entrelaçando seus dedos nos dela, e levando a mão
ao rosto fechou os olhos, para aspirar o perfume dele que ainda estava impregnado.
_Você quer
Andy. Perguntou, enquanto que acendia a luz da cozinha.
_ O quê,
cheirar sua mão?... Hum! Também não é para tanto. Isa sem se conter, dá uma gargalhada
e fala para a outra da cozinha.
_ Ô sua
maluca, eu perguntei se vai querer chá de frutas também. As duas caem na
risada, esquecendo o adiantado da hora. Acabam por acordar a mãe de Isa, que
aparece na cozinha.
_ Me perdoa
mãe, acordamos você. Quer chá?
_ Obrigada
Isa, mas não quero não, só vim ver que carnaval é esse fora de hora, na minha
cozinha. Faça o favor de deixar tudo um brinco. Amanhã a faxineira não vem.
Abre a geladeira e pega água.
A mãe de
Isa era baixinha, cabelos tingidos de louro a caju, olhar sincero e rosto
expressivo. Professora universitária aposentada, pedagoga simpatizante da
doutrina espírita, se dedicava a trabalhos voluntários numa creche e numa
escolinha patrocinada pelo Centro Espírita que frequentava. Cidade do Amanhã. O
pai de Isa militar aposentado, todos o chamavam respeitosamente de Capitão
Cardoso, Isa herdou os olhos verdes do pai e os cabelos avermelhados. O pai era
ruivo. Embora sua patente fosse maior, era assim que era conhecido por todos.
Capitão Cardoso. Era um senhor bem mais
velho que a esposa, muito sério, grandão, mas muito afetuoso também. Diferente
de Dona Maria Isadora, pequena, mas cheia de vigor, falante e determinada,
sempre engajada em alguma atividade. Tentou criar o sindicato das donas de
casa, mas não evoluiu. Estava envolvida nas atividades beneficentes do Centro
Espírita, participava ativamente de passeatas pela paz, campanhas de agasalho,
e coisas do gênero. Colocou o copo na pia e deu um beijo na cabeça da filha e
uma palmada no traseiro de Andy, que apoiada de joelho na cadeira da cozinha se
posicionava de retaguarda para cima.
_ Vão para
cama, já é tarde, não se esqueçam de apagar a luz e Isa você trabalha amanhã e
vai pegar estrada bem cedo. Lembrou antes de sair da cozinha...