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sábado, 30 de maio de 2015

Capítulo 1

Segue, parte do primeiro capítulo do meu livro.


CAPÍTULO I


Enquanto Isabela escutava no som do seu carro, o novo CD do cantor romântico favorito Flávio Weiss, voltando do trabalho, aguardava no engarrafamento já costumeiro, fizera o possível para sair mais cedo, mas não conseguiu, estava ansiosa para chegar a sua casa e se arrumar para o show. Comprara o ingresso com direito a mesa ha dois meses atrás. Em duas semanas os ingressos se esgotaram. Pensou em ligar
para Adriana, sua amiga de infância que também era fã do cantor e iriam juntas para o show logo mais tarde. Adriana era carinhosamente conhecida por seus amigos como Andy.
_ Alô, Andy? A amiga atendeu no primeiro toque o celular.
_ Onde você está? Eu já estou em casa me arrumando para o show, e você?
_ Ainda estou na estrada, presa num engarrafamento, o que é que eu faço? Nós vamos chegar atrasadas. Mas caso você queira se adiantar, me fala! Parece que tem uma blitz mais adiante, vou desligar, tchau!

Os pensamentos ainda voltados para o show, já se imaginava curtindo as canções românticas na voz do seu cantor preferido. O telefone celular toca chamando novamente, não gostava de atender enquanto dirigia.
Isabela mais conhecida por Isa, carioca filha de pai carioca e mãe baiana, enfermeira e psicóloga. Gostava de sua profissão e também gostava de cantar. Apesar de não se achar bonita. Nutria a esperança de encontrar um grande amor, tinha a aparência um tanto exótica se comparada ao modelo padrão de beleza brasileira. Aos 32 anos ainda estava solteira, e em toda sua vida só teve um primeiro e único namorado. De compleição delicada e pequena, 1,60m de altura, com pele muito clara, algumas sardas quase invisíveis sobre o nariz, cabelos castanhos claros lisos com reflexos avermelhados, de comprimento nos ombros. O que mais chamava atenção eram os olhos. Belos olhos grandes e expressivos num rosto muito delicado. Lábios de contorno suaves. Aparentava ter menos idade por conta de seu constante ar romântico e frágil. Fugia dos relacionamentos complicados e modernos. Espirituosa, romântica ao extremo e muito mística, acreditava no amor eterno. Daqueles que derrubam trincheiras e faz levitar. Mas até o momento este ser mitológico ainda não aparecera.
O último namorado, de temperamento muito diverso do seu, mais velho e experiente foi um fracasso, acabando com a confiança de Isabela e fazendo ruir seu mundo encantado. Acreditava mesmo que gostava de David, e ele dela, mas agora tinha dúvida se algum dia o amou. O amor não podia ser tão pobre de lealdade e sentimento. Era o que pensava ao analisar essa relação.
Médico anestesiologista conceituado na profissão, aos 35 anos ainda tirava pinta de playboy no melhor estilo: "curtindo a vida adoidado".  A maturidade profissional, não acontecia também na vida pessoal. Ele era um grande farrista, diferente de Isa que era caseira e não curtia badalações e multidão. Ele levava Isabela mais cedo para casa, e saia mais tarde com outras garotas, já que a namorada não queria acompanhá-lo. Ele se permitia pequenas traições, acreditava que aos homens isso era permitido. Não partilhavam dos mesmos prazeres, enquanto Isa recatada, caseira. Preferia ler livros de filosofia, artigos médicos e livros espiritualistas, gostava de autores consagrados da literatura nacional e internacional, música clássica e MPB de qualidade seleta. O que dava uma falsa impressão blazê, as pessoas que não a conheciam direito. Pois, na verdade era tímida, de temperamento sereno, não era fechada, sempre aberta ao diálogo. Cultivava a fé na alegria de viver sob a proteção dos ensinamentos de sua maior inspiração. Jesus Cristo. Nutria por Ele um amor místico acima de qualquer coisa. 
David gostava de barzinhos, pagode, praia e noitadas regadas à boemia e muita cerveja. Alegava que ainda se sentia um adolescente. O resultado é que não conseguiam se divertir juntos e acabou sendo traída por seu namorado com uma de suas colegas de trabalho, que ficou conhecendo David, numa festa de aniversário de outra colega em comum. Ele acreditava que Isa era a mulher perfeita para ser a mãe de seus filhos. Boa para casar não para se divertir. Vacilou por se envolver com uma garota que também conhecia sua namorada. Acreditava que com o tempo consertaria tudo. Como ele mesmo dizia, confiava em seu “taco traíra”. 
Romperam o relacionamento de quase dois anos, há dois meses. Mergulhou totalmente em seu trabalho e só agora Isa saia de casa para se divertir. O fim do romance trouxe amargura, pois se sentia enganada, já estava acostumada a acreditar que os dois tinham construído algo importante. No entanto Amanda vinha saindo com seu namorado há algum tempo. Ficou sabendo que várias pessoas conhecidas suas os encontraram juntos e comentavam pelas costas.
O que mais doía não era simplesmente a traição, era o fato de constatar que o amor que David sentia por ela não passava de pó de traque, araque, balela. Jargões fora de moda. Ninguém mais falava esses termos hoje em dia. Assim como fidelidade, lealdade, honestidade que perece ter perdido o significado moral ficando apenas o significado semântico. Mais um engano bobo do seu coração romântico. Agora Isa sabia disso. E se indignava pela forma como as pessoas vulgarizavam o amor.
Depois que chegou a ser flagrado pelo Pedro o irmão mais velho de Isa num barzinho que o David gostava de frequentar e que Isa detestava. No mesmo dia Isa ficou sabendo por seu irmão, que era muito protetor. Muito mais velho que ela, era advogado e morava em São Paulo, e se falavam frequentemente por telefone. Pedro de vez em quando, sempre que podia vinha visitar a família no Rio de Janeiro.
Finalmente ela conseguiu atender, o telefone que insistia chamar pela terceira vez, assim que entrou na garagem do apartamento de seus pais, com os quais ainda estava morando, entrou apressada para chegar logo. Atendeu. Pensou, deve ser Andy...
_ Diga Andy, já estou chegando a minha casa, num minuto me arrumo... Foi logo respondendo, sem saber quem estava do outro lado da linha.
_ Não é Adriana, sou eu David.
Ficou muda pela surpresa. Depois do rompimento não haviam se falado mais, já que ao ser flagrado não procurou se justificar, simplesmente disse que queria dar um tempo. Não adiantava negar os fatos. Deu aquele tempo que se costuma dar para a poeira baixar, agora queria consertar as coisas.
_ O que é que você quer David? Ressentida falou mais agressivamente do que pretendia, não gostava de demonstrar o quanto que ainda estava magoada, não queria dar esse gostinho. Mas era passional e muito espontânea para conseguir fingir segurança e frieza. Parecia mais uma colegial do que mulher feita, quando se tratava de relacionamentos amorosos. Andy sua melhor amiga, dizia que seu romantismo beirava ao ridículo, para não dizer a loucura. E isso afugentava os homens.
Davyd iniciou a conversa.

_ Nós precisamos conversar querida, sei que você ainda está chateada, e com razão. Eu preciso falar com você.  Calados por alguns instantes. Isa não conseguia dizer nada. Ele continuou.
_ Eu te amo Isa. Esse afastamento só me fez ver o quanto fui burro! Amanda foi um erro, já passou. Eu adoro você Isa, você é a minha vida. Isa continuava muda, tentava refazer-se desse inesperado contato, não podia se esquecer do tempo todo que só fez papel de idiota. Ele continuava insistente.
 _ Gosta desse cantor de música melosa que está se apresentando hoje, não é? Vamos juntos ao show! Eu sei que você comprou a mesa. Você precisa me dá uma chance Isa, nunca mais eu vou te trair. Ela finalmente conseguiu responder, depois de controlar a emoção!
_ É, gosto muito, desse cantor de música melosa, mas já tenho com quem ir, e estou atrasada. Não tem mais volta David. Não confio mais em você. Se o Pedro não te flagrasse, você estaria me enganando até agora. Falava emocionada enquanto estacionava o carro, sem muita atenção, quase raspando o retrovisor na pilastra da garagem. Toda carga emocional dos últimos meses aflorando. Preferia que ele nem tivesse ligado. Porque não conseguiu prever isso. Pensava! Tanta gente avisou que o cara era volúvel, colecionador de rabo de saia.

_ Você tem certeza que não quer mais me ver? Eu te amo Isa, eu sei que não agi certo, admito, mas estou arrependido e estou muito mal com o fim do nosso namoro. Você não gosta dos meus amigos e das minhas farras, nunca queria me acompanhar, mas vê se tenta me entender. A voz traia um sentimento de arrependimento que parecia genuíno, chorava, ou parecia que se esforçava para aparentar isso. Isa não queria se enganar mais uma vez. Ficou muda, não sabia o que dizer. Uma lágrima idiota escorria embargando a voz. Olhava seu nariz vermelho e os cílios molhados pelo retrovisor, só de imaginar que ele poderia estar chorando. Era uma chorona contumaz, respirou fundo por três vezes para controlar-se. Não era a falta dele o que doía, era perder a esperança de amar e ser amada de verdade. Esse era o motivo da lágrima.

_ Isa, amor, você está chorando? Chego aí em dois minutos... Certo? Posso ir amor? ...  Silêncio!
_ Davyd. Não força a barra! 
_ Eu estou tão pertinho da sua casa. Sinto sua falta... Silêncio! Depois de algum tempo: Reação! Ela pensou, devo ser muito previsível mesmo, fácil de manobrar. Não vou dar chance para me arrepender dessa vez.
_ Não, por favor, não quero falar com você hoje, talvez algum dia possamos conversar sobre isso, mas não hoje. Estou atrasada, quero me divertir e hoje não quero pensar em você. Acho melhor ficar como está David, não tem mais volta. Vá curtir com seus amigos.
_ Não seja tão drástica Isa, pelo menos me diga com quem você está saindo! Eu conheço? Falou desanimado. _ Com quem é que você vai? Se eu pegar esse sujeito, vou arrebentar a cara dele! Você é minha. Eu tenho certeza que você vai voltar para mim.
_ Não seja ridículo. Não sou sua e nem de ninguém. Não sou o tipo de moça que você curte, vou sair com uma amiga. Não que isso seja da sua conta. Vou desligar agora e faça o favor de não ligar nunca mais. Desligou o celular e saiu do carro.

Com amargura relembrava as juras de amor e o tempo perdido, enquanto se iludia achando que ele era o homem perfeito e o sentimento que tinha por ela era amor verdadeiro. Porque um amor de verdade nunca pode acabar. Acreditava nisso. Esse era o seu lema de vida.

Chegando ao seu quarto, se dirigiu ao chuveiro, queria espantar qualquer tristeza que o contato com David provocou, enquanto relaxava debaixo da água morna e forte da ducha, pensou: "Em algum lugar deve existir alguém que vale a pena amar eternamente". Como dizia um refrão de uma das músicas do seu cantor romântico favorito. Hoje só queria sonhar embalada às canções de amor de Flávio Weiss. Pensava enquanto espalhava shampoo de jasmim com morango nos cabelos. Esperava por este show há meses. Sonhava conhecê-lo pessoalmente. Teve que fazer malabarismos na sua escala para conseguir o fim de semana de folga. Cantarolava uma música do novo disco!
Estava mais elegante do que gostava de se mostrar, vestia um tubinho preto de renda justo que realçava seu corpo delgado, sapatos tipo botinha cano curto de camurça preta e salto alto fino. Uma jaqueta de cetim cinza prata, completava o modelo. Prendeu os cabelos sedosos num rabo de cavalo com um cordão prateado, deixando alguns fios de cabelo soltos dos lados e na nuca delicada. Aplicou uma camada generosa de maquiagem, para logo em seguida lavar o rosto e passar demaquilante. Por mais que tentasse não conseguia usar toda maquiagem na ordem que aprendeu, se sentia como uma vedete da década de 50 em dia de carnaval, o cabelo ruivo e os olhos graúdos verdes, já davam um contraste muito colorido ao rosto expressivo. Depois do rosto limpo novamente, usou apenas um pouco de pó cor de pele clara, blush rosinha e batom cintilante rosinha discreto também. Enquanto estudava o próprio reflexo no espelho do guarda-roupa. Sentiu uma familiar sensação, quase uma intuição, um leve arrepio, e o reconhecimento daquela presença, a fez abrir um sorriso. Então viu a sua silhueta indistinta no fundo do quarto a se refletir no espelho do guarda-roupa. Como sempre, por fração de segundos a respiração suspensa, até perceber de quem se tratava.
Era ele, o seu mentor amigo, o seu anjo de luz. E ele aparecia sempre que Isa se sentia aflita ou prestes a dar um mau passo, ou quando simplesmente se concentrava chamando-o. Ele surgia como uma leve sombra esmaecida, então ia se distinguindo, não muito nitidamente, como alguém visto através de um vidro embaçado, variando a nitidez, a depender da iluminação, outras vezes apenas escutava a sua voz. Ele era luz e consciência na sua forma natural, incorpóreo. Precisava se transformar, se concentrar para fazer um contorno mais denso e tangível, permitir ser visto por sua tutelada. Aparecia como figura masculina. Reproduzia a forma de uma de suas encarnações mais antigas, era um beduíno de túnica e turbante a moda dos nômades árabes. Barba espessa e negra de olhos castanhos claros incrivelmente avermelhados, íris cor de ferrugem cintilante, seu olhar era profundo e brando, aparecia aureolado de tênue luz como a luz clara e suave da alvorada. Sério de voz grave e extremamente calmante raramente sorria era discreto.
Era um árabe em uma de suas encarnações mais antigas neste planeta. De porte nobre e bonito, fora muito rico, comerciante de peles numa cidade árida, próximo ao deserto, que hoje em dia é a cidade de Marrocos. Distribuiu toda sua riqueza entre os pobres e viveu só fazendo caridade, tendo apenas a roupa do corpo e uma tenda. Contemplava as dunas de areia, meditava e estudava o alcorão, foi contemporâneo de Pedro, o apóstolo e foi através dele que conheceu Jesus de Nazaré, meses após a crucificação numa de suas peregrinações para comercializar suas peles. Apesar de Árabe compreendeu a importância de Jesus, e procurou estudar avidamente seus ensinamentos. Os mulçumanos relacionam até hoje, a figura do Nazareno como se fosse apenas mais um profeta.
Essa foi uma das suas muitas encarnações, já fora escravo africano, médico, padre franciscano, cientista, sempre uma alma em busca de elevação e desapego material. Assumia a forma da encarnação mais antiga e importante na opinião dele, porque foi nessa que entrou em contato com os ensinamentos do Mestre, quando encarnado e passou a guiar sua vida de forma definitiva.
Escutava sua voz grave e suave ao mesmo tempo, dentro dos seus pensamentos. Callel Halli, como se apresentara pela primeira vez quando Isa, tinha 12 anos de idade. A comunicação acontecia sempre pelo olhar e pelo pensamento, não falavam com os lábios, Isa não compreendia muito bem o mecanismo, acreditava que era por telepatia. Porém o processo era bem mais sutil e preciso.
Médium desde criança, Isa vivia entre dois mundos. Gostava de se comunicar com os espíritos antigos, e libertos deste planeta. Geralmente esses usavam roupas antigas ou túnicas alvíssimas e por vezes chegavam nimbados de luz e sempre serenos. Muitos se diziam antigos mestres em ascensão. Impossível de serem observados mais detidamente, dada a força de sua luz. Falavam muitas vezes das enfermidades dos seus pacientes e do tratamento mais apropriado, dirigiam-se a Isa com humildade e educação, alguns tinham sido médicos ou pretos velhos curandeiros e diziam que as pessoas doentes precisavam da energia de cura que ela concentrava abundantemente. Falavam da necessidade dela se preparar para uma missão.  
Dos outros espíritos, os recém desencarnados e mais atrasados. Como nós outros, mais perturbados e doentes, Isa tinha um pouco de receio, pois sempre chegavam bruscamente assustando. Muitas vezes provocando mal estar a depender do que plasmavam em seus pensamentos. No inicio foi traumático, mas agora já estava acostumada. Entretanto, aprendera a disciplinar este dom há pouco tempo. Era feliz, pois nascera no seio de uma família que se tornou espírita há muito tempo, quando Isa ainda era criança. Por isso compreendiam o que acontecia com ela. Desde cedo fora educada a dominar suas manifestações e clarividência sem causar alarde ou chamar atenção. Sua mãe dizia: “As pessoas, ainda não estão preparadas para aceitar com naturalidade a mediunidade.” Para muitos, algumas situações eram inexplicáveis e por isso mesmo irrelevante buscar a explicação. Para outros, portanto, uma loucura total, ou uma baboseira religiosa. Sua mãe que procurava conhecer a Doutrina Espírita tentava proteger a filha, de situações embaraçosas mais do que qualquer coisa.
Iniciaram então o seu dialogo mental. Isa já não o via há mais de 30 dias:
_Olá meu amigo, tenho sentido a sua falta, você nunca esteve tão distante, por onde andou meu anjo da guarda! _ Estou sempre por perto, mas nem sempre me faço visível, observo a distancia seu estado de irreflexão e distração com as situações irrelevantes do caminho. _ Como assim? Você diz isso por causa do meu relacionamento frustrado com o David, só porque me dei mal? E porque não me avisou que ele me traia? _ Sou seu guia espiritual e amigo, não é minha função fazer fofoca, não sou sua ama seca. Além do mais, você precisava desse aprendizado, muitas vezes vem com espinhos que machucam, mas não deixa de ser benéfico remédio contra falta de bom senso. Você se desvia do caminho quando se distrai ocupando a mente com situações que não favorecem ao seu crescimento e nem dos demais.  

Ele era amigo, mas tinha um código de disciplina muito rígido. E não alisava quando tinha que ser disciplinador, era direto.
_ Estou aqui para lembrar mais uma vez, que você está se desviando do seu objetivo mais importante. Preciso dizer que você insiste em perder tempo Isabela. _ Callel. Acho que nunca vou me sentir preparada. Algo tão grande chega a dar medo. _ Eu respeito sua liberdade de escolha menina, mas o tempo não para pra você se sentir totalmente segura para começar. Enquanto não sabe como iniciar, o tempo passa célere. Você sabe que veio para trabalhar com a espiritualidade, minha função é só lembrar a você que a vida é trabalho em construção de algo maior, edificante para si e para os que te cercam. Essa encarnação é oportunidade que não deve ser desperdiçada, você precisa começar a equilibrar suas energias, disciplinar a sua rotina, domar a mediunidade. Mas, só se você desejar isso! _ Não sei por onde começo, além do que já tenho feito. E parece tão pouco. _ Comece por perdoar o rapaz, que não tem noção do quanto está equivocado. Ele não possui o conhecimento que você tem. Não pode viver numa fantasia. O que você esperava dele era impossível. Mas sua história com ele é muito mais de doação. Não espere dele, nada do que anseia ou imagina. _ Não quero mais envolvimento com David, é sério Callel. Então ele foi se apagando de repente... _ Preciso ir agora menina fique em paz! _ Também vou sair agora, por favor, Callel não desapareça por muito tempo meu amigo, eu preciso de você...

E ele sumiu no ar de repente como fumaça, deixando um perfume marcante para Isa, uma mistura suave de almíscar e rosas, mesclado de uma sensação de pureza e paz, como sempre acontecia. Como se o ar ficasse mais leve para respirar. Sabia que precisava se preparar. Isso consistia em frequentar o Centro, estudar mais e se dedicar a exercitar a mediunidade, controlar os pensamentos focando nos objetivos e desapegando das fantasias criadas por sua natureza excessivamente romântica.
Procurou se adiantar, pois já estava atrasada e ainda ia passar na casa da amiga. Saiu depois de dar uma última olhada no espelho e apagar a luz do quarto.

Andy já estava esperando na porta de sua casa. Sua amiga de infância e de todas as horas, não morava muito longe, apenas alguns quarteirões, não partilhavam a mesma fé. Andy era carioca também e se dizia Católica por conveniência, dessas que nunca frequentam missa em dia de domingo, embora seus familiares fossem praticantes fervorosos, mas apesar das divergências religiosas de cada uma, amigas desde a adolescência, eram unha e carne. Porém a amiga não gostava dos assuntos referentes a mediunidade de Isa, porque não compreendia, sempre dizia que a amiga era “matusquela”. Preferia não aprofundar o assunto, até chegou a ler alguns livros de autores espíritas, mas não acreditava em reencarnação e vida após a morte. Aceitava o catolicismo como uma instituição social, mas nem mesmo acreditava em Deus. O Espiritismo e mediunidade para Andy então, era coisa inconcebível, muito além de sua capacidade e interesse! Gostava de viver se divertindo e não levava nada muito a sério, se negava a amadurecer, mesmo já longe da adolescência. E mais que tudo adorava atormentar os pais, eles tinham um relacionamento difícil entre si. Sobretudo Andy e a mãe.

Andy entrou no lado do carona no carro de Isa, vestida de terninho rosa claro aberto na frente com saia curtinha godê e blusa de seda preta rebordada com vidrilho preto, lançava reflexos ao se mover, com seus cabelos louros longos quase na altura dos quadris. Não era gorda, mas era um pouco cheinha, vivia fazendo dieta. Um lindo rosto em formato de coração e olhos azuis claros brilhantes e risonhos. Estava sempre de alto astral com os amigos, era mais nova do que Isa, apenas um ano e meio. As duas estavam muito elegantes. Ainda bem que Andy deixou a mania de se vestir de modo dark, pensava Isa ao ver sua amiga tão bonita e bem arrumada. Andy foi dizendo ao entrar no carro espalhando seu perfume caro de grife.
_ Isa, minha filha vamos voando baixo, senão perderemos parte do show, que já está para começar, daqui ha exatos quinze minutos. Se quiser me dá a direção que eu sei voar. Isa na sua calma habitual não se abalou e disse:
_ Todo show sempre atrasa, Andy, esse vai ser igual nesse sentido, aposto, fique calma! Vamos chegar a tempo.
Na frente da casa de eventos mais famosa do Rio de Janeiro, algumas pessoas, aguardavam. Outras já entravam para procurar um bom local, já que poucos privilegiados conseguiram comprar mesa numerada e o lugar estava reservado com os nomes. Isa e Andy conseguiram uma mesa bem em frente ao palco, pagaram caro, mas valia a pena, dividiam a mesa que era para quatro pessoas, só para elas duas, esperavam por este show há muito. 
O ingresso de mesa dava direito a manobrista e estacionamento coberto, acesso facilitado ao interior do teatro. Depois de entregar a chave do carro ao rapaz fardado de terno preto. Aproximavam-se do pórtico de entrada, bastante iluminado por refletores, painéis luminosos em neon com o nome do cantor por toda a parte no saguão. Foram abordadas por uma repórter que entrevistava as pessoas que chegavam.  A repórter de microfone na mão seguida de perto por um cinegrafista, que se aproximou educadamente e perguntou:
_ Boa noite senhoritas, se vieram ao show é porque gostam de Flavio Weiss. Vão ficar no camarote ou mesa?  Então podem dizer algo sobre o trabalho do artista desta noite? Diga o seu nome, olhando para a câmera. Enquanto direcionava o microfone para Isa. As duas moças foram pegas de surpresa e não tinham como recuar. Então Isa falou timidamente, a outra pedindo para que olhasse para a câmara.
_ Boa noite, sou Isabela, temos mesa. É bastante fácil falar sobre este artista maravilhoso, posso ficar tecendo elogios para ele a noite toda. Flávio é uma mistura de Mário Quintana e Fernando Pessoa da música, que sabe falar de amor com elegância, encanto, e ao mesmo tempo com simplicidade. Toca a alma romântica, sem ser piegas ou cafona. Consegue ser sofisticado, a medida que é primoroso em tudo,  da poesia a melodia, sua música é de muito bom gosto. Eu o amo, porque acredito na sua mensagem, quando fala em amores platônicos e mágicos com poder de transformação.  Sem falar da voz que é maravilhosa. Bom, parece que me entusiasmei e já falei até demais, respondeu com sorriso sem graça.
_ Ok, Flavio você acaba de escutar mais uma de suas fãs entusiasmadas. Acho, que por hora já temos muitas candidatas. E olhando para uma câmara de retransmissão, pergunta como se o artista estivesse escutando a entrevista ao vivo. Então, voltando- se para as moças agradece.
_ Obrigado senhoritas, tenham um bom show, saibam que as duas estão concorrendo a visitar o camarim para brindar com o Flavio durante o intervalo, entre a primeira e segunda parte do show. Boa sorte, Diego da recepção para o palco, com você Diego...
As meninas entraram entusiasmadas, Isa esquecera completamente a conversa por telefone com David. As moças não pretendiam visitar camarim, Isa não gostava de tietagem. Porém ia gostar muito de conhecer pessoalmente o artista. Mas não botava muita fé nisso. Não acreditava muito nessa possibilidade. Andy agitada dava gritinhos de alegria, e repetia:
 _ Eu sei que nós é que vamos ser escolhidas, tem que ser.
Sequer podiam imaginar que o cantor estava no camarim, assistindo para observar o movimento das pessoas chegando, e teria ficado encantado com a moça. Até se sentiu envaidecido com os elogios a sua música, ela o comparava a Fernando Pessoa e Mário Quintana, muito exagero da parte dela.
Embora já estivesse imune aos elogios e críticas da imprensa. Cansado e desmotivado, não pretendia brindar com ninguém desta vez, já no final da turnê nacional, só faria mais algumas apresentações contratadas e tiraria férias. Até que o discurso apaixonado da moça de olhar majestoso, o deixou curioso, ela falou com uma eloquência tocante olhando para a câmara como se estivesse falando para ele pessoalmente, o tirou do chão. Um olhar tão doce! Parecia que já a conhecia de algum lugar.
Com 47 anos de idade, não se achava um homem propriamente belo, tinha um físico jovial, 1,79m de altura, de tórax forte, um porte musculoso, gostava de cuidar da saúde e preservava seu físico invejável, tinha olhos azuis escuros, mineiro de Belo Horizonte. Fazia o estilo másculo romântico. Viúvo do primeiro casamento e separado do segundo, sem filhos, não mais procurava alguém especial, pois já não acreditava existir tal coisa, que costumava cantar em suas canções. O cabelo castanho escuro já com alguns fios grisalhos que insistia em manter, apesar dos apelos de sua empresaria para inovar o visual, fazer plástica. Sua aparência física não o estava incomodando, não tinha inclinações para conquista de mocinhas saídas da adolescência, preferia mulheres maduras, serenas e inteligentes. Eram menos histéricas e sabiam manter um dialogo interessante. É claro que gostava de belas mulheres adultas de qualquer idade, mas nunca fora seduzido por corpos voluptuosos, principalmente os muito turbinados artificialmente. Devia estar mesmo chegando a melhor idade. Pensou! Porém uma coisa aquecera seu coração nesta noite.
Aquela moça, ele fazia questão de conhecer e estava ansioso para chegar o intervalo. Como era mesmo seu nome, Ah! Isabela, será que estava acompanhada só com a loirinha, tomara que sim. Pensava consigo mesmo. Designara Angélica para não retornar sem as duas moças. Já pensava em dedicar a música de lançamento a ela. Como de costume, dedicava a música final para alguma mulher no palco, não alguém em especial, mas um nome de mulher. Dedicaria a música final a todas Isabelas.
Ela falava com tanta doçura, um olhar tão sincero, parecia que tinha mel escorrendo pela boca, foi como uma caricia suave nos seus ouvidos cansados, incrivelmente tocante, e sem saber que estava sendo observada, foi tão natural e sensual na sua espontaneidade. É linda! Pensava o cantor.
O show começou no estilo intimista, que sempre o marcou. Solo se dividiu no palco de forma elegante, entre o seu violão elétrico e o piano de cauda. Encantava com suas baladas românticas, banda e percussão de qualidade superior, levando o público a cantar com ele e a sonhar com amores eternos, com amores impossíveis, com amores incríveis. Seu público em sua maioria feminino e fiel. Sabiam cantar todas as suas canções, casa lotada e muitos aplausos, chegando o final da primeira parte. Entrava um rápido número de comediante stand up. Flávio gostava de apresentar no intervalo dos seus shows, algum talento desconhecido, sempre trazia algum artista interessante.
As moças Isa e Andy estavam em êxtase, mas não imaginavam que seriam convidadas para brindar com o cantor no seu camarim. Sentadas a mesa tomando coquetel de frutas. Foram surpreendidas, quando a moça que entrevistava na chegada veio até elas.
_ Meninas estão gostando? Perguntou a moça toda risonha.
_ Sim estamos adorando. Respondeu Andy. Sem poder se conter, pediu. _ Será que podemos pedir um autógrafo ao Flávio, você já o conhece intimamente? Quero dizer, são conhecidos! Isa interrompeu envergonhada.
_ Andy. Não vou com você pedir autógrafo, não me faça pagar mico. Então a surpresa de Isa, quando foram convidadas. A moça que entrevistava na entrada chamava-se Angélica e tinha a missão de levá-las até Flávio Weiss.
_ Pois, preparem-se estou aqui em missão especial para levá-las até o camarim dele, ele está esperando por vocês para um brinde. Vocês podem tirar fotos se quiserem, mas não podem filmar.
_ É sério? Isa perguntou surpreendida. Enquanto Andy gritava e pulava. Isa ficou muda e séria de repente. Emocionada não sabia o que dizer, acompanha a amiga. Pensava! O que diria a Flávio Weiss? “Olá eu amo suas canções desde a adolescência”. Na verdade disfarçava sua excitação, pois também queria gritar feito Andy.
_ Vamos logo meninas! Estamos perdendo tempo. Falou a tal repórter, assistente de bastidores ou algo do gênero. E indicou o caminho com um gesto.
_ Espere, deixa ver como eu estou. Andy falou segurando toda frenética a amiga pelo braço. Ela se olhava num espelho de mão.
_ Calma, Andy, Isa tentava conter a histeria da amiga para que a outra se acalmasse. Andy às vezes tinha um comportamento inconsequente e impulsivo Isa mais contida tentava segurar os excessos da amiga.
_ Andy, por favor, não exagera, não vamos ter um ataque, vamos lá só cumprimentar o rapaz, vê se não cria vexame. Eu já li na internet que ele detesta ataque de fã maluca. Porém, no fundo Isa também estava feliz e nervosa. Tinha todos os discos e escutava suas músicas o tempo todo. Sabia que ficaria a gaguejar quando estivesse diante dele.
A moça de nome Angélica bateu na porta e fez as duas moças entrarem numa ante sala do camarim. Era muito aconchegante, tinha um estofado com almofadas de seda dourada, uma mesa com balde de gelo com duas garrafas de Don Perrinon e algumas taças de cristal fino, uma bandeja com frutas e outras bandejas com canapés e outras iguarias como frios, caviar no gelo, salgados e doces. Vários CDS empilhados numa mesinha lateral ao sofá. Iluminação aconchegante, ar condicionado gelado, parecia tudo preparado para a ocasião. Isa pensou, será que todo show preparam uma sala para o Flávio brindar com alguma fã escolhida, que no caso presente era ela e Andy, ainda estava sob o impacto da situação inusitada, quando ele entrou por outra porta.
Ele estava muito charmoso. Era esbelto, com braços e tórax fortes, musculosos um homem imponente, tinha um sorriso aberto e olhar penetrante. Usava camisa branca de linho de mangas compridas e arregaçadas. A camisa meio aberta na frente deixando a mostra parte do tórax. Ele vestia calça preta justa delineando pernas musculosas, De olhar azul profundo e direto, quase duas fendas brilhantes, testa larga e contorno do rosto anguloso, não era muito alto, se movia com elegância máscula e já pegava as mãos de Andy que se dirigiu primeiro em sua direção e levava até os lábios para um cumprimento cavalheiresco, em seguida fazendo o mesmo gesto com Isa, demorando um tempo maior ao encará-la nos olhos e ao segurar suas mãos. Isa ficou muda, mas o brilho dos olhos, as mãos frias e as maçãs do rosto afogueada, denunciava a emoção que sentia.
Andy desatou a tagarelar sem freio. Enquanto se posicionava na frente dele. Isa com seu sorriso discreto de Monalisa. Tímida, não conseguia falar, só conseguia olhar para ele. Andy estava bem à vontade.
_ Que prazer imenso, conhecer você pessoalmente, olha esta é a melhor noite da minha vida, e esta é minha melhor amiga, Isabela que faz coleção de seus discos. Posso tirar uma foto Flávio? Pegando o aparelho celular dentro da bolsa, não esperou a resposta dele, pediu a amiga para fotografar e foi logo enganchando a mão e se dependurando no braço dele, que não conseguia desviar os olhos de Isa. Ele se mantinha sorridente, demonstrando prazer em recebê-las.
_ Isa, vê se tira várias fotos querida, preciso mostrar para todo mundo, senão ninguém vai acreditar a sorte grande que tivemos nesta noite mágica. Dizia Andy toda coquete.
_ Flávio você pode abaixar mais um pouco, assim encosta mais. Isa, atabalhoada, pegou o celular das mãos da amiga, foi se esconder atrás da máquina e começou a disparar várias vezes. Envergonhada com a falta de cerimônia da amiga, continuava muda. Depois inverteram as posições.
_ Agora você fofa. Passe aqui o aparelho. Andy foi falando e empurrando de leve a amiga. Trocaram de lugar e ao se aproximar, ele delicadamente a abraçou pela cintura, olhando para ela e encostando o rosto tão perto que as bochechas se tocaram.
Depois passado a seção de fotos, a amiga começou a fazer um bocado de perguntas monopolizando a atenção do rapaz. Isa sem graça apenas observava tudo com um meio sorriso e olhos brilhantes. Andy disparava perguntas. Onde você mora atualmente? Quando será o próximo show, sobre turnê internacional, O que mais gosta de fazer...  Ele tentava responder, mas antes disso lá vinha outra pergunta. Andy era um foguete. Então ele olhou fixamente para Isa e perguntou com olhar galanteador.
_ Você não vai falar nada agora Isabela. Só porque está na minha frente! Não parece a mesma moça tão falante que me fazia elogios algumas horas atrás. Isso tudo está gravado, eu posso provar que você fala. Percebendo o embaraço dela, se virou e pegou a garrafa de champanhe e abriu com agilidade e experiência, sem derramar nem estourar, encheu três taças e serviu primeiro a Andy, depois Isa, que parecia ter engolido a própria língua. Então, parecendo que acordava de um transe, tomou coragem e falou.
_ Não acredito que você estava assistindo naquela hora. E também não acredito que estou aqui na sua frente. Posso fazer um brinde? Foi pegando a taça das mãos dele. Então esperaram que ela fizesse o brinde.
 _ Um brinde a noite mais incrível da minha vida, ao melhor cantor romântico do mundo, ao romance, e ao amor. Brindaram tocando as taças e sorveram pequenos goles em seguida. Então Flavio convidou as moças para sentar no sofá ficando ele no centro. Perguntou a Isa.
_ Isabela me diga o que você faz da vida, além de ser uma sereia, ou para melhor combinar com seus olhos e seus cabelos de cobre, uma feiticeira. Charmoso virou-se enquanto segurava a taça e encarava Isa com seu olhar e sorriso mais sedutor. Os olhares se encontravam atraídos.
_ Ah, eu sou enfermeira, sou psicóloga e também canto em casamentos, mas não sou cantora profissional, trabalho num posto de saúde, dou plantão num hospital de uma cidadezinha do Rio, e bem, coisas assim. Estou muito nervosa, me desculpa a falta de jeito, não sabia que gaguejava, até ficar assim tão perto de Flávio Weiss. Rindo sem graça, se sentia intimidada pela presença poderosa dele. 
_ Não seja boba! Isabela, você precisa me conhecer melhor, vai ver que sou igual a todo mundo, não precisa ficar assim tão encabulada, na verdade também sou bastante tímido e gosto de simplicidade, adoro gente simples. Enquanto falava olhava diretamente para ela e bebia seu champanhe sem desviar o olhar magnetizador dos olhos de Isa, parou de beber, descansou a taça numa mesinha próxima e depois mordendo o lábio inferior, novamente encarava Isa de forma muito direta e perguntou num impulso indiscreto.
_ Gostaria de conhecer você em outra ocasião. Isabela você tem namorado? Casada sei que não é. Deduzia ele. Isa sorriu e questionou.
_ Porque você deduz que não sou casada? Perguntou menos tímida.
_ Bem, se você fosse minha esposa ou namorada, eu não deixaria você sair a noite sozinha, eu estaria te acompanhando. Um grande defeito que tenho. Sou ciumento!  Além do mais não vejo nenhuma aliança em sua mão.
 Estavam negligenciando um pouco Andy, que se levantou e circulava pela sala com sorriso maroto. Foi se servir de um canapé, depois ficou examinando os CDS. Então ele segurou a mão direita de Isa entrelaçando os dedos, provocando um frisson da ponta dos dedos até o resto do corpo da moça, com súbita intimidade. Dominava completamente o ambiente e parecia se sentir muito a vontade. Se voltando para o outro lado, mas sem soltar a mão de Isa, fortemente entrelaçada com a dele. Perguntou.
_ Então Andy, é esse o seu nome?
_ Sou Adriana, Andy para os íntimos, ela respondeu sorridente.
_ O que você faz além de ser muito divertida e alegre? A moça voltou a se sentar, enquanto respondia.
_ Bem acho que é isso que eu faço, divirto as pessoas, sou jornalista, escrevo para um jornal e também tenho uma página numa revista na seção feminina, faço comentários divertidos sobre as roupas dos famosos. Aliás, preciso dizer que seu personal stylist, está de parabéns.
_ Obrigado Andy, eu não tenho um. Minha empresária determina o que eu devo vestir nos shows, poucas vezes interfiro. Será que você vai fazer um comentário engraçado sobre minhas roupas, no seu jornal, olha lá o que vai dizer!
_ Só posso falar a verdade, e a verdade é que você está vendendo charme e saúde demais. Ele olhou para o relógio de pulso, ao mesmo tempo, que alguém batia na porta do camarim. Levantou e trazendo consigo Isabela que tinha os dedos entrelaçados nos seus, ele disse apertando mais ainda a mão de Isabela.
_ Bem, minhas queridas amigas, agora nós estamos ligados por esta noite para sempre, foi um prazer conhecer pessoas tão encantadoras, mas preciso me preparar para o segundo ato e gostaria de entrar no palco com você Isabela. Vem comigo? Ele aproximou a mão dela do seu peito, ainda entrelaçada com a dele. Continuou.
_ Queria cantar uma música especial, que será lançamento, ainda não tinha pensado no nome da música, mas se encaixa certinho com o seu nome Isa... bela...  E fala para Andy, ainda segurando a mão de Isa.
 _ Você me empresta sua amiga só um pouquinho Andy, logo em seguida ela pode voltar para a mesa? Então Isa se deu conta e o coração acelerou. Soltou a mão que a prendia bruscamente. Estava distraída olhando para ele com adoração e só depois percebeu o que ele queria.
_ Por favor, Flávio, não faz isso comigo não, sou muito tímida e estabanada, com certeza vou dar vexame. Eu canto em casamentos, porque ninguém repara nos cantores, só nos noivos. Ele suspirou enquanto olhava sério para Isa, que recusava seu convite. O que a maioria das moças que brindavam com o cantor, ansiava por acontecer. Ela recusava. Suplicante se desculpava meigamente levantando os ombros, por não acompanhá-lo no palco.
_Sinto muito não vai dá! Pode me pedir outra coisa, mas não isso.
_ Tudo bem princesa, então Andy o que faço para reencontrá-las mais uma vez?
Andy, sempre despachada. Pegou um cartão da sua bolsa e entregou ao rapaz como se fosse um troféu dizendo.
_ Olha! Flávio, isto aqui é um presente. Neste cartão está o endereço e o telefone da Isa, já percebi a química que está rolando entre vocês. Adoro ser cupido. A Isa é boba, por não querer entrar no palco com você. Seria uma honra. Mas a Isinha detesta aparecer. Vou parar de falar, pois ela já está ficando vermelha. Andy tinha o dom de fazer corar todos ao seu redor, era uma debochada sem limites.
_ Obrigado por tudo Andy, te devo essa, guardou o cartão no bolso de trás da calça. Ele agradecia enquanto dava um beijo na bochecha de Andy se despedindo, e oferecendo qualquer disco da pilha que ela estava examinando até poucos instantes. Ela pegou dois dos CDS que já estavam autografados. Oferecendo também a Isa, que pegando um agradeceu, dizendo que já tinha todos os seus discos e dizendo que nada podia se comparar a emoção de conhecê-lo pessoalmente.
 _ Esse show será para sempre inesquecível para mim. Eles estavam presos pelo olhar. Flávio ficou segurando novamente sua mão entrelaçando os dedos, com um olhar quente que deixava claro seu interesse por ela. Então se inclinou devagar como se estivesse hipnotizado, foi de encontro a Isa e se despediu com um leve e sonoro selinho. Deixou um perfume inesquecível de fragrância masculina e soltando a mão de Isa, se despede finalmente.  As duas voltaram para a mesa, extasiada uma e eufórica a outra.
 O artista voltou ao palco, mas para Isa, tudo estava diferente, parecia flutuar, enquanto ele cantava olhando para ela constantemente. Com ar sonhador, romântica incurável, em estado de encantamento não percebia mais nada só a música e o olhar daquele homem encantador. Homem maduro, que sabia muito bem o que queria de sabor intrigante como vinho antigo, como seria beijá-lo, pensou consigo mesma, não um leve roçar de lábios, mas um beijo de verdade. Ele era atraente demais. Um perigo!
Cantou a última música depois de declarar para todos que fazia uma homenagem a Isabela, uma amiga que estava presente. Em seguida cantava a música nova, desconhecida ainda do público, que pela aceitação e enlevo logo seria seu mais novo sucesso. De melodia suave, falava de uma mulher que aparecia nos seus sonhos e ela vinha rodeada de luz para curar todas as dores do seu coração e por várias vezes durante a música ele sussurrava o nome Isabela, como se mandasse uma mensagem cifrada.

Ao encerrar o show, elas voltaram para casa de Isa. Andy decidiu dormir lá, pois na verdade queria comentar o acontecimento do ano, até esgotar. Isa era frágil e romântica, mas tinha um bom senso de realidade, insistia em afirmar que os artistas são os seres mais volúveis do mundo e acostumados a distribuir galanteios para qualquer mulher com a mesma naturalidade com que escovavam os dentes ao acordar. Andy, entusiasmada e querendo animar a amiga, recém saída de uma decepção amorosa, jurava para quem quisesse que o Flávio Weiss, fora fisgado e estava perdidamente apaixonado por Isa. Foi amor a primeira vista. Ela dizia, revirando os olhos e fazendo troça.
_ Tudo bem Andy, mas a minha carruagem já virou abóbora e meu sapatinho de cristal já virou chinelo surrado, vamos tentar dormir que amanhã é plena quinta-feira, dia de trabalho. E vamos falar mais baixo, meus pais estão dormindo. Entre dois bocejos, dizia. _ Não sei por que este show foi acontecer numa quarta-feira e estava lotado.
_ Você é uma danada sortuda, aquele homem maravilhoso, não tirava os olhos de você o tempo todo, você não reparou isso Isa? Olhava para você com uma fome de leão. Apesar de ele ser um pouco velho para você. Continuava comentando exaltada como se não escutasse nenhuma palavra de Isa. As duas estavam na sala de estar do apartamento dos pais de Isa. Andy deitada sobre as almofadas no tapete no chão, já havia tirado os sapatos, e Isa no sofá, também já estava descalça.
Isa se levanta e vai em direção ao quarto apanhando os sapatos no chão.
_ Vamos dormir Andy, sua desmiolada, e depois ainda diz que eu é que sou biruta. Ele não é velho, é o homem mais lindo que eu já vi. O olhar dele congela e aquece ao mesmo tempo o coração da gente.
_ Cuidado para não ter um choque térmico. Andy sempre fazendo pilhéria.
_Ai! Já chega de sonhar acordada, Andy. Vou arrumar o sofá cama do meu quarto para você. Depois vou tomar banho, tomar um chá de frutas e tentar dormir. Hoje, vai ser bem difícil, vou confessar que ele me impressionou, ainda tenho o perfume dele na minha mão. Isa ficou olhando para a própria mão e lembrando que horas atrás ele apertava aquela mão entrelaçando seus dedos nos dela, e levando a mão ao rosto fechou os olhos, para aspirar o perfume dele que ainda estava impregnado.
_Você quer Andy. Perguntou, enquanto que acendia a luz da cozinha.
_ O quê, cheirar sua mão?... Hum! Também não é para tanto. Isa sem se conter, dá uma gargalhada e fala para a outra da cozinha.
_ Ô sua maluca, eu perguntei se vai querer chá de frutas também. As duas caem na risada, esquecendo o adiantado da hora. Acabam por acordar a mãe de Isa, que aparece na cozinha.
_ Me perdoa mãe, acordamos você. Quer chá?
_ Obrigada Isa, mas não quero não, só vim ver que carnaval é esse fora de hora, na minha cozinha. Faça o favor de deixar tudo um brinco. Amanhã a faxineira não vem. Abre a geladeira e pega água.
A mãe de Isa era baixinha, cabelos tingidos de louro a caju, olhar sincero e rosto expressivo. Professora universitária aposentada, pedagoga simpatizante da doutrina espírita, se dedicava a trabalhos voluntários numa creche e numa escolinha patrocinada pelo Centro Espírita que frequentava. Cidade do Amanhã. O pai de Isa militar aposentado, todos o chamavam respeitosamente de Capitão Cardoso, Isa herdou os olhos verdes do pai e os cabelos avermelhados. O pai era ruivo. Embora sua patente fosse maior, era assim que era conhecido por todos. Capitão Cardoso.  Era um senhor bem mais velho que a esposa, muito sério, grandão, mas muito afetuoso também. Diferente de Dona Maria Isadora, pequena, mas cheia de vigor, falante e determinada, sempre engajada em alguma atividade. Tentou criar o sindicato das donas de casa, mas não evoluiu. Estava envolvida nas atividades beneficentes do Centro Espírita, participava ativamente de passeatas pela paz, campanhas de agasalho, e coisas do gênero. Colocou o copo na pia e deu um beijo na cabeça da filha e uma palmada no traseiro de Andy, que apoiada de joelho na cadeira da cozinha se posicionava de retaguarda para cima.

_ Vão para cama, já é tarde, não se esqueçam de apagar a luz e Isa você trabalha amanhã e vai pegar estrada bem cedo. Lembrou antes de sair da cozinha...
Brevemente, aguarde a publicação da metade do primeiro capítulo de meu primeiro livro. Trata-se de um romance espírita, longe de ser psicografia, abordo temas sobre mediunidade, espiritismo e romantismo. Não técnico, mas baseado nas observações pessoais sobre as casas espíritas Kardecista que frequento e a literatura oficial que estudei e continuo a estudar sobre eta respeitável doutrina, religião, filosofia de vida, ciência e crença.

domingo, 26 de abril de 2015

MENTE - INTUIÇÃO - MEDIUNIDADE

A compreensão de certos pensamentos fortuitos ou focados em algo específico, e que por breves instantes nos sensibilizam, mas que são estranhos!Porque chegam não sabemos de onde e cruzam a nossa mente se interpondo aos nossos pensamentos mais comuns.Pensamentos insistentes e perturbadores muitas vezes, de tão estranhos... O pensamento é energia da qual sabemos muito pouco ou quase nada de forma concreta. Todo conhecimento humano não evoluiu muito, a cerca do entendimento dos comportamentos bizarros. Ainda nos guiamos por conceitos antigos da psiquiatria e psicologia. De Freud, Bleuler, Jung e Pavlov, com seu estudo do comportamento condicionado. Eminentes estudiosos do comportamento humano. Nietsch e outros filósofos materialistas, não diferem muito nas suas considerações em relação ao pensamento, apesar de valorosa contribuição no campo da psicanálise. Não saímos da maquete material, e o que a ciência não consegue explicar ainda, por conta de não ser percebido pelos sentidos básicos que conhecemos visão, olfato, audição, tato e gosto. É tido como abstração, portanto, sem importância. Sempre uma visão materialista. Em contra partida podemos citar o corajoso, pioneiro e precioso trabalho de Alan Kardec e mais recentemente a Drª Elizabeth Kubler Ross, proporcionando ao mundo uma luz nova sobre o processo da morte e reencarnação. Tornando o momento da morte mais humanizado e menos assustador.
Não chegamos nem perto ainda de sondar a natureza química e radiante das emissões cerebrais durante o pensamento em ação. Os cientistas que estudam a Neurofisiologia já fotografaram através de equipamentos de avançada tecnologia de imagens as emissões elétricas luminescentes que ocorrem nas redes sinápticas durante a atividade cerebral. Mas a mente não é palpável, não é biológica. Não está circunscrita ao arcabouço ósseo que reveste as meninges.Apenas observamos a ponta de um iceberg de proporções inimagináveis. A matéria radiante intangível, não deixa de ser matéria, existindo no mundo material, ocupando espaço de alguma forma e exercendo suas influências, benéficas ou maléficas. Fundamentos da Física Quântica, o estudo das incertezas e das probabilidades, a partir da divisão do átomo e da contínua movimentação das micropartículas que gravitam seu núcleo, capaz de produzir uma energia poderosa, que ainda não sabemos controlar de forma segura. A energia nuclear. Evidencias apontam a possibilidade da existência de algo mais sutil do que jamais poderíamos imaginar, a ante matéria. Sem sairmos do campo científico. No microcosmo, tanto quanto no macrocosmo da vida humana e inumana, a existência de leis que reinam soberanas promovendo um equilíbrio tão meridianamente exato proporcionando a manutenção da vida manifestada em formas variadas. Dando-nos a certeza de uma regência anos luz além da capacidade de compreensão humana.
O "somos o que pensamos" de Sidarta Gautama, nem sempre esteve relacionado ao que gostaríamos de ser, ou o que somos realmente. Acredito ser mais certo afirmar: " estamos semelhantes ao que atraímos com o nosso pensar atual". E partido do pressuposto das doutrinas espiritualistas, somos o conjunto de tudo que agregamos de aprendizado nas muitas existências corpóreas. A soma de todos os nossos "eus" de existências passadas e as inteligencias pensantes que atraímos e gravitam nossa psicosfera. É o que dá forma ao pensamento, supostamente.
O espiritismo Kardecista, vem explicar com uma lógica indiscutível, alguns dos mistérios universais, através da decodificação de ensinamentos transmitidos por espíritos benfeitores deste planeta com a ajuda de medianeiros, ou seja, repassam uma coletânea de informações organizadas por temas que agregam grande conhecimento acerca da criação do Planeta e da vida que nele habita. Além disso, traz-nos informações surpreendentes em relação a pluralidade da vida, que continua após o que conhecemos de morte. Esclarece pontos obscuros ou mal compreendidos sobre os evangelhos e o Mundo Espiritual.
A sutileza das emissões "invasoras", que se acercam de nós sem que percebamos, não nos livra a responsabilidade de vigiarmos os nossos pensamentos e ações, pois, estaremos fatalmente sujeitos, a experimentar as suas consequências. O tribunal a nos julgar, está em nós. A consciência. A evolução é de ordem moral e amorosa.
Jesus Cristo é o ser mais influente que pisou neste planeta, nenhum outro ser foi capaz de exercer influência tão abrangente, duradoura e definitiva. Dividindo o tempo histórico em antes e depois do seu nascimento.Sua doutrina é a base do Código de Leis em todo mundo cristão ou não cristão. Ele recomendou, segundo seus discípulos, pois, não deixou nada por escrito de próprio punho. " O vigiai e orai". Porque o pensamento na maioria das vezes precede a ação. Portanto, vale ressaltar que o pensamento é uma potência de difícil controle. a sua emissão viaja em ondas de energia variável exercendo seus efeitos e atuando onde possa ser captado ao ser sintonizado por mentes de sinergismo semelhantes, e manifestando-se através de atos e palavras. O potencial de criação do homem começa no ato de pensar, e ele não pensa e nem sonha sozinho, em algum lugar na sua mente, a trama da paz e da guerra é tecida por muitos...
A ciência da mediunidade merece estudo sério no meio acadêmico científico sem mistificações do fanatismo religiosos, sectarismos documentais e dogmáticos e sem a obliteração obtusa e inútil do pensamento ateísta fundamentalista. Apesar disso, os que não acreditam em nada ou acreditam nos sacerdotes assalariados, merecem o devido respeito e direito a sua livre demanda. Porque até "o nada dos ateus", pode vir a ser um ponto de partida para o "tudo". Haja vista vivermos em um mundo cheio de profundas contradições e complexidades que escapam imensamente dos limites estreitos do entendimento humano a cerca de tantos mistérios.Os olhos de Isa é o nome do meu primeiro livro, trata-se de um romance que conta a estória de uma médium nos dias de hoje e busco inspiração nos muitos livros de li sobre o tema. Ainda em busca de patrocínio para publicação.